domingo, 6 de maio de 2012

RESENHA: HISTÓRIA DE SERGIPE REPÚBLIA (1889-200)- IBARÊ DANTAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
TEMAS DE HISTÓRIA DE SERGIPE II


ACADÊMICO: Ronaldo Brasil dos Santos
PROFESSOR: Dr. Antônio Lindivaldo Sousa










RESENHA DA OBRA: HISTÓRIA DE SERGIPE REPÚBLICA (1889 – 2000)













 




São Cristóvão,
Maio de 2012


O cientista político José Ibarê Costa Dantas nasceu no município de Riachão do Dantas, em 1939. Formou-se na UFS em História e fez Mestrado em Ciências Políticas pela Unicamp. Na UFS ainda lecionou entre os anos de 1970 e 1994, seja na graduação ou pós-graduação. Foi bancário durante 13 anos. Hoje é autor de oito livros e referência para diversos autores, Ibarê é professor Emérito da Universidade Federal de Sergipe e recentemente presidiu o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS) no biênio 2004/2005, além de integrar o Conselho Diretor da UFS e o Grupo de Debates Democráticos (GDD). É casado com a antropóloga, professora e pesquisadora Beatriz Góis Dantas, com a qual tem dois filho e dois netos.
Em sua obra Ibarê Costa Dantas se propõe a responder questionamentos diversos a respeito dos anos da República (1889 – 2000). Como os sergipanos produziram e distribuíram sua cultura nesses anos? Quais as mudanças ocorridas no Estado e na sociedade?
Esta síntese da História de Sergipe é fruto, sobretudo, de trabalhos já publicados nos últimos 35 anos, como A Tutela Militar em Sergipe 1964 – 1984: (partido e eleições num Estado autoritário), O Tenentismo em Sergipe (da Revolta de 1924 à Revolução de 1930), Coronelismo e Dominação, Os Partidos Políticos em Sergipe e Eleições em Sergipe (1985 – 2000). Em História de Sergipe República (1889 – 2000) o autor tem o propósito geral de entender a complexidade do processo histórico estadual, instigado por seu desejo incessante de investigar a história de seus conterrâneos.Sergipe, apesar de ser o menor Estado da federação, tem um território marcado por uma riqueza cultural e política, além de histórica. A presente obra, segundo o próprio Ibarê é destinada a apresentar um pouco dessa história aos estudantes do Ensino Médio e graduandos com o propósito de suprir a carência de uma obra mais geral da História de Sergipe.
No primeiro capítulo, intitulado “O Estado liberal-oligárquico e o domínio dos senhores do açúcar (1889 – 1930)” o autor afirma que a primeira República em Sergipe foi marcada pela construção dificultosa de uma democracia. Os primeiros anos de República foram tumultuados e marcados por instabilidade política, formaram-se arranjos oligárquicos que permitiram a continuidade dos governos, ao mesmo tempo em que impediram que liberalismo e democracia andassem juntos.
A competição entre os partidos quase não existia, além de pouca concorrência nas disputas eleitorais e ínfima participação da sociedade nas eleições. A estrutura política dominante se pautava na hegemonia de grupos elitizados. Mas, ao analisar-mos o contexto de outras regiões, percebemos que esse tipo de dominação política em Sergipe foi ameno, pois quase todos os governantes do período foram simpatizantes ou militantes do movimento republicano. No governo, os componentes dos grupos conservadores nem sempre fizeram sucessores no poder. Além disso, a partir de 1906 não vai haver figuras personalistas dominando a política local por muito tempo.
Nesses primeiro anos de República em Sergipe se nota o domínio das famílias dos senhores de engenho. Tal fator comprova o alto grau de conservadorismo existente na política sergipana e sua incapacidade de rupturas no campo da política. A democracia e a cidadania avançaram muito pouco. Aliado aos anseios de modernização a coluna prestes se projetou como uma alternativa de derrubada do regime essencialmente conservador.
Apesar de a economia açucareira ainda ser a base da exportação, há uma significativa diversificação da produção. A industrialização era uma realidade, água, encanada, luz elétrica, bondes, estradas, telefones, mercado, matadouro, o avanço do capitalismo envolvia a economia sergipana.
A sociedade sergipana se tornou mais complexa, embora ainda houvesse a manutenção dos privilégios das classes dominantes. As classes menos favorecidas acompanhavam um movimento que contagiada grande parte do Brasil: as greves operárias, com reivindicação por melhores condições de higiene e saúde. Eram criados jornais com diversas ideologias. Já as condições educacionais eram baixíssimas, segundo o Censo de 1890 a população de analfabetos era de 89%. Em 1920 essa percentual só melhora para 83%. Alguns governos atuaram de forma autoritária com a finalidade de coibir manifestações e críticas nos jornais.
No segundo capítulo, ao analisar o Estado intervencionista e o domínio em transição, Ibarê menciona a Revolução de 1930 como fator responsável pelo aparecimento de novas forças no campo político, mas que por outro lado manteve o poder do Estado atrapalhando a institucionalização da democracia.
Em uma primeira fase (1930/35) houve uma ampliação e reestruturação do poder administrativo ao lado do desgaste do poder das oligarquias coronelísticas. As sindicalizações ocorriam sob a fiscalização dos interventores. Foi sob este controle estatal que o voto passou e ser secreto e com a participação feminina. A partir de 1935 aumenta a polarização entre esquerda e direta, a repressão aumenta, culminando com o golpe de Vargas em 1937.
A próxima fase (Estado Novo) é marcada, sobretudo pela participação mais efetiva do Estado na tentativa de montar uma unidade nacional através da propaganda do governo federal amplamente apoiada pelos interventores. Nesse período há certo prejuízo a produção artística devido a muitas proibições, mas essa produção não deixou de existir, foi mais uma forma de resistência ao Estado autoritário.
No capítulo “O Estado populista e o domínio dos pecuaristas (1946/1964)” é tratado como a fase do domínio populista até então de maior experiência democratizante. A política ganhou maior campo para disputas, apesar de o PCB ser alvo de cassação. A UND e o PSD se revezavam no poder após dois mandatos consecutivos, seus governantes, progressivamente se tornavam mais sensíveis às questões sociais.
No campo econômico, aumentavam as distâncias entre nordeste e sudeste, pois o modelo agro-exportador perdia espaço para a industrial. As empresas têxteis sergipanas enfraqueceram diante da competição com outros Estados dominantes do setor monopolista do sudeste. Por outro lado, o comércio expandiu-se e a pecuária vivia seu auge. Apesar disso, a escolha do Estado não foi explorar essas potencialidades, atrelando a economia no setor terciário sob a mesma influência de dependência regional.
Entretanto, a sociedade tornava-se dinâmica. O sindicalismo se fortaleceu com gritos de reformas, as manifestações culturais aproveitavam-se da ausência do autoritarismo do período anterior e se mostravam profícuas, porém, o Estado não deixou de guiar essas transformações, atuando no ensino fundamental, criando instituições de nível superior e entidades culturais, além de subsidiar artistas e escritores, ao mesmo tempo em que crescia a preocupação com a questão social.
De acordo com o que acontecia em âmbito nacional, o projeto nacional e popular foi se fortalecendo envolvendo artistas e intelectuais na formação do Estado-Nação comprometidos com modificações significativas no campo da política. No avançar dos anos 60, o Estado se mostrava incapaz de atender as demandas populares, pois passava por crises econômicas que exigiam cada vez mais sacrifícios da população. As necessidades por mudanças aumentaram e a propriedade privada, o domínio dos meios de produção pelo capital estrangeiro, e o bem estar da elite financeira foram sendo questionados. Sem bases de sustentação, o governo federal passa a atender as reivindicações populares, só que o projeto de nação-popular foi tragado pela coalizão civil-militar a serviço dos interesses do capitalismo, interrompendo o processo democrático.
Em “O Estado autoritário e a ascensão dos empresários urbanos (1964/82)” Dantas fala sobre a marca autoritária do período ditatorial que excluiu a participação popular como medida de segurança em virtude do enclinamento do país ao socialismo. Mudanças antidemocráticas e anticonstitucionais foram tomadas como, por exemplo, eleições indiretas para governadores, o que enfraqueceu os partidos locais (UDN e PSD).
O Estado repressor exigiu inúmeros sacrifícios à nação, como, o atropelamento das leis instituídas, violação dos direitos civis e políticos, ou seja, o país foi levado a um retrocesso nunca antes visto.
 Dessa forma, os governos militares estimularam o conflito, a desordem na vida política, amedrontando a população, o que afastou a capacidade de contestação de camadas expressivas, alimentando uma forte cultura da subalternidade. A pesar disso, o país não deixou de se modernizar, a estrutura industrial sergipana se sobrepõe à agro-exportadora, principalmente, através da Petrobrás. A camada de empresários urbanos se fortalece, especialmente na construção civil, dotados de poder econômico começam a influenciar a política.
As classes subalternas estavam à margem desse processo, o que justifica as intenções de desenvolvimento “pelo alto”. Prova disso foi a permanência do elevado número de analfabetos, a alta concentração de renda na mão de poucos, entre outros. O avanço tecnológico e as relações de produção capitalista ampliaram-se na cidade e no campo, enfraquecendo a possibilidade de dominação individual sobre a produção. Em Aracaju, o número de universitários cresceu, o que repercutiu no ambiente sócio-cultural. No início dos anos 80 cresce a mobilização dos meios organizados, animando-se diante da expectativa de retorno da democracia.
No campo cultural, a partir de 1969, as produções são submetidas à censura. O Estado procurou implementar seu projeto cultural autoritário e burocrata em sintonia com a lógica do mercado, sendo financiada pra legitimar a nova ordem.

A UFS, os festivais de arte e cultura, as recuperações de monumentos históricos e os incentivos a produção artística formaram o legado mais expressivo desse período. (DANTAS, 2004, p.226)

No quinto capítulo Ibarê Dantas aborda aspecto do Estado liberal-democrático em construção no período de 1983 a 2000, onde a democracia se estabelece e o Estado liberal (Neoliberalismo) se fortalece, a sociedade ganha maior expressividade, sendo mais informada e participando mais ativamente da política. A redemocratização instigou a produção artística e acadêmica, gozando agora de liberdade de crítica. O mundo globalizado proporciona a adoção de costumes padronizados calcados na lógica de mercado.
Como conclusão, podem ser apontados alguns observações sobre a obra e o que ela significa para a História de Sergipe. Apesar de não se deter a uma análise aprofundada, a obra representa uma abertura de caminhos para produções mais completas e concisas, pois atualmente, como o próprio professor Ibarê mencionou em certa entrevista, há pouca divulgação da produção historiográfica sobre o Estado de Sergipe. Muitas obras importantíssimas que ajudariam nesse tipo de produção, como as da historiadora Maria Thetis Nunes necessitam de reedições.
É neste sentido que História de Sergipe República (1889 – 2000) é uma obra que merece ser consumida por um público não somente acadêmico, mas também que alunos do ensino médio possam ter contato com riquíssimas informações sobre seu Estado e a sua História.
Atualmente, ainda há uma obra historiográfica que aborde a História de Sergipe desde os primeiros habitantes indígenas até os dias atuais, há apenas fragmentos, o que pode levar a diversas incoerências interpretativas, principalmente quando se comparar a História local à História do Brasil. Sergipe, como qualquer outra região, teve e tem suas especificidades. Portanto, a presente obra de Ibarê Dantas significa este incentivo a produções não somente mais abrangentes como também reflexivas sobre a História do nosso Estado.

REFERÊNCIA
DANTAS, Ibarê. História de Sergipe República (1889 – 2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário