sexta-feira, 1 de junho de 2012

RELATÓRIO: XIV ENCONTRO SERGIPANO DE HISTÓRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
TEMAS DE HISTÓRIA DE SERGIPE II

ACADÊMICO: Ronaldo Brasil dos Santos





RELATÓRIO SOBRE O “XIV ENCONTRO SERGIPANO DE HISTÓRIA- IBARÊ DANTAS: HISTÓRIA, MEMÓRIA E HISTORIOGRAFIA”











São Cristóvão/SE,
31 de maio de 2012









Relatório sobre o XIV Encontro Sergipano de História- Ibarê Dantas: história, memória e historiografia, apresentado a disciplina Temas de História de Sergipe II, sob a orientação do professor Dr. Antônio Lindivaldo Souza.
















1.      INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O XIV Encontro Sergipano de História, no ano de 2012, tem uma temática que por diversas razões é especial.
Primeiramente, ao debatermos sobre a produção historiográfica sergipana refletimos sobre nossas próprias dificuldades e desafios enfrentados no terreno da pesquisa histórica. Em segundo plano, e evento foi uma oportunidade de homenagear um mestre e incentivador da escrita da história: José Ibarê Costa Dantas. O evento- Ibarê Dantas: história, memória e historiografia, aconteceu num momento bastante oportuno em que as monografias tendem a ser substituídas por artigos, fazendo com que o acadêmico deixe de vivenciar a experiência de pesquisador e escrever um tipo de trabalho já consagrado como a introdução a um trabalho de mestrado.
O evento significou a oportunidade, dentre tantas outras reflexões, a de pensarmos na importância dos autores sergipanos tanto para historiografia local quanto nacional e Ibarê é hoje o maior representante quando se fala em Sergipe República, nada mais justo do que discutir sobre suas obras num evento, ao tempo em que nas salas de aulas e nas pesquisas acadêmicas sobre história de Sergipe, suas obras estão sendo recorrentemente citadas.
É inegável a existência de um elo profícuo que uni a Universidade Federal de Sergipe e o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, elo que contribui de diversas formas para resguardar a manutenção de vasta documentação sobre a história de Sergipe. Ibarê Dantas ajudou, sobretudo, quando presidentes do IHGS (2004 – 2009) a manter uma relação estreita entre o instituto e a universidade. Sua generosidade e contribuições, sobretudo, no campo da história política servem de estímulo para futuras pesquisas o que ajudarão a manter vivo o debate e o conhecimento sobre diversas questões sobre a história do nosso Estado, sobretudo, os problemas que afligem o nosso povo.

2.      RELATO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

2.1- CONFERÊNCIA DE ABERTURA- 28/05/2012 (NOITE)
A conferência de abertura do XIV Encontro Sergipano de História- Ibarê Dantas: história, memória e historiografia teve como palestrante o professor Dr. Frederico Neves da Universidade Federal do Ceará, o qual falo fez uma análise das obras “o Nordeste” de Gilberto Freyre e “A invenção do nordeste” de Durval Muniz. O professor Frederico é um grande estudioso da história do Brasil, mais especificamente, da seca no nordeste bem como os movimentos sociais.
Em sua fala, o professor Frederico faz observações bastante pertinentes sobre as obras que se propõe a análise, considerando sua interrelação com o tema do evento, destacando os conceitos presentes nas obras de Freyre e Muniz discutidos em outros autores, inclusive Ibarê Dantas. Por exemplo, a imagem que foi construída de um nordeste das contradições, do tradicionalismo político, percebido de diferentes formas em outras regiões, mas que no nordeste é vista a marca do banditismo, fanatismo religioso, cangaço, coronelismo e clientelismo, fatores que perpassam a história da República brasileira e que possui fortes resquícios na atualidade. O Conceito alvo de destaque pelo professor Frederico foi o sertão, distinguindo a idéia real de sertão, ou seja, uma área delimitada, indo além da região nordeste e a sertão como sinônimo de nordeste, seca, atraso, como se todo o nordeste sofresse com a estiagem e toda população fosse abarcada por esse fenômeno.
O professor Frederico não se limitou apenas a sua pesquisa, ao ser questionado, fala a respeito das visões estereotipadas do sertão no livro didático, o que o leva a afirmar a importância  do mesmo de modo inovador que traga uma história que parta do concreto para o abstrato e não ao contrário como é percebido atualmente. O professor defende que as práticas docentes têm que ser voltadas para as reflexões conceituais para depois ser dado início ao conhecimento propriamente dito.

2.2- MESA REDONDA: IBARÊ DANTAS E A HISTÓRIA POLÍTICA- 29/05/2012 (MANHÃ)
À mesa redonda, a professora Terezinha Oliva (IPHAN) fala sobre o centenário do IHGS que será comemorado em agosto de 2012, salientando as contribuições de Ibarê para o instituto enquanto o mesmo foi vice-presidente e presidente. Terezinha faz um apanhado de importantes obras de Ibarê Dantas:
O “Tenentismo em Sergipe” de 1974, inaugurando a o leque de produções do autor. A obra teve repercussão nacional, sendo publicada por editora não local e servindo de estímulo para outras produções. A professora destaca que o movimento tenentista em Sergipe foi o mais expressivo do nordeste. Em síntese, a obra trata das revoltas político-militares de 1924 e 26 como uma tentativa de desbancar a velha ordem oligárquica. A obra representa um marco na pesquisa historiográfica sergipana.
 A obra sobre o pai do importante político sergipano do século XX Leandro Maciel foi o último grande livro de Ibarê, com mais de 400 páginas, fato inédito em suas obras, Ibarê trás à tona a história do império, mostrando as contradições biográficas de uma figura política importante no século XIX.
Em seguidas, as colocações de Samuel Albuquerque trouxeram ainda mais informações importantes sobre as obras do homenageado.
Samuel destaca as boas experiências que viveu quando aluno da UFS com o professor Ibarê, dentre elas a chegada do mesmo  em uma de suas aulas de História de Sergipe apresentando uma de suas obras: “Eleições em Sergipe de 1989 - 1964”.
Ibarê Dantas, ao presidir o IHGS, segundo Samuel, ajudou a modernizar a revista do instituto, dentre outras contribuições.
Por fim, Samuel Albuquerque faz uma rápida listagem do quadro de presidentes do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe desde sua fundação em 1912, destacando aqueles considerados memoráveis, dentre eles o professor         Ibarê.

2.3- MESA REDONDA: IBARÊ DANTAS E A HISTÓRIA DA REPÚBLICA EM SERGIPE- 29/05/2012 (NOITE)
A segunda mesa redonda do evento foi composta pelo professor Dr. Francisco José Alves e o professor Dr. José Vieira Cruz (UNIT). Na oportunidade o professor Francisco apresentou suas observações sobre a obra “Sergipe República (1889 – 200)”. Dentre tantos aspectos relevantes o professor Francisco destaca que, ao examinar as fontes utilizadas por Ibarê, percebe a utilização de documentos oficiais de “grandes” personagens da história política. A obra está escrita em primeira pessoa do plural; seu autor procura ser literário em alguns momentos; mostra gosto por termos arcaicos e oriundos do marxismo; não foca somente o político, mas também o social, econômico e cultural, embora não demonstre tanto domínio nos três últimos; o apêndice de sua obra é rico, assim como as lista de fontes.
O professor Francisco salienta ainda uma marcante característica do Ibarê Dantas escritor: a sua coragem quando faz críticas a determinados políticos, inclusive os que estão vivos e compondo o cenário político estadual, assumindo o risco de que essas pessoas podem se ofender com tais críticas, mas percebe-se que esse fato não é o suficiente para limitá-lo.
Em seguida, o professor Vieira dá sua contribuição ao evento falando da importância das fontes e métodos de abordagem citando algumas obras de Ibarê Dantas. O professor coloca que a síntese afasta o diálogo com as fontes, citando o exemplo de “Sergipe República (1889 – 2000)” que, diferentes das outras obras de Ibarê possui esse caráter de síntese, o que abre várias possibilidades de questionamentos e aprofundamentos por seus leitores. Por essa razão, defende que uma obra tem que ser consumida e criticada para que seja realmente conhecida e também para que surjam muitas outras produções que preencham as lacunas deixadas.
Já sobre “A Tutela Militar em Sergipe (1964 -1984)” o professor Vieira que o autor é crítico quando escreve sobre os excessos do Regime Militar. Porém, não é demonstrado que Ibarê assuma ser adepto da direita ou da esquerda, não deixando de criticar nenhum dos dois lados.

2.4- SESSÃO DE COMUNICAÇÕES- 30/05/2012 (MANHÃ)
De acordo com os trabalhos apresentados, vários temas foram discutidos entre os presentes. Dentre eles, a temática da Educação Patrimonial, o patrimônio aracajuano e a metodologia do uso da revista em quadrinhos como recurso para a Educação Patrimonial.
O cinema também foi abordando, sendo discutido entre alunos e professores a apropriação dessa poderosíssima máquina formadora de opinião pelos regimes fascistas, como o caso citado do governo franco na década de 1960 na Espanha.
A história de Sergipe é novamente lembrada quando é mencionada a figura contraditória do udenista Leandro Maciel que governou Sergipe de 1955 a 1960, além das repercussões em seu governo sobre o suicídio de Vargas.
Foram discutidos também os aspectos da administração da Capitania de Sergipe Del Rei. O doutorando em História Social pela UFBA Luís Siqueira tenta, em sua tese, questionar a abordagem tradicional de Felisbelo Freire que descreve a capitania de Sergipe como um espaço de desordem e desleixo do poder português e Maria Tethis Nunes que carrega uma visão marxista, colocando Sergipe como lugar de exploração e subordinação à capitania da Bahia. Com isso o estudioso ratifica a presença de são Cristóvão como cidade, pois o conceito de urbanidade na época era diferente e a mesma possuía uma estrutura administrativa considerável, apesar de até mesmo Gregório de Matos, em um de seus poemas, menosprezar essa condição, mas o poeta cita a palavra cidade no próprio poema.

2.5- MESA REDONDA: IBARÊ DANTAS E A HISTORIOGRÁFIA SERGIPANA- 30/05/2012 (NOITE)
As contribuições do professor Dr. Antônio Lindivaldo Sousa e o professor Dr. Antônio de Araújo Sá foram importantíssimas para concluir as diversas análises feitas às obras do professor Ibarê Dantas, não somente por serem atuantes, vivenciando o andamento de diversas pesquisas sobre Sergipe República e sentirem na prática o quanto as obras de Ibarê Dantas são requisitadas, mas também por serem especialistas em história e historiografia de Sergipe e do Brasil.
            O professor Fernando Sá fez citação de alguns pontos nas obras de Ibarê Dantas, destacando a necessidade da visitas aos arquivos por parte dos estudantes. O professor Fernando criticou o “paroquialismo” de alguns estudantes ao elaborarem seus trabalhos monográficos, sem nenhuma crítica, delimitação correta do tempo histórico que pretendem abordar e a ausência do diálogo entre a história local e nacional. Outro ponto em destaque foi a representatividade das obras de Ibarê na historiografia nacional, trazendo discussões abordadas por autores como Sergio Buarque de Holanda e José Murilo de Carvalho a respeito da problemática que circula em torno da construção ou implantação da democracia no Brasil.
            O professor Lindivaldo, em sua fala, mostra dados bastante interessantes sobre a quantidade de monografias que citam as obras de Ibarê.
            “O Tenentismo em Sergipe” e “A Revolução de 30 em Sergipe” tornaram-se obras de referência em trabalhos monográficos e outros trabalho de professores do Departamento de História. Assim como se tornaram obrigatórias as leituras de Maria Tethis Nunes quando o tema é sobre colônia e império, o mesmo acontece com Ibarê Dantas quando o tema é sobre Sergipe República.
            De acordo com o levantamento do professor Lindivaldo, “O Tenentismo em Sergipe” de 1974 é citado em 33 monografias; “Coronelismo e Dominação” de 1987 em 24 trabalhos; “Partidos Políticos em Sergipe (1889 – 1964)” é o mais citado com 56 monografias; “A Tutela Militar em Sergipe (1964 – 1984)” em 32 e “Sergipe República (1889 – 200)” em 28 trabalhos monográficos.

2.6- CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO- 31/05/2012 (MANHÃ)
            Ao falar sobre suas obras e sua vida de pesquisador, Ibarê Dantas faz uma retrospectiva de vida, de dedicação à História de Sergipe. Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe, Dantas foi bancário, mas não deixou de se relacionar com a academia, logo viajando a Campinas onde fez mestrado em Ciências Sociais. Ao retornar a Sergipe ingressa no corpo docente da UFS, momento em que suas primeiras obras já têm certa repercussão nacional. O que o levou a pesquisar sobre temas voltados para a história de Sergipe foi, sobretudo, a pouca produção historiográfica e a curiosidade de entender como acontecimentos de repercussão nacional se desenvolveram em Sergipe, outro motivo Ibarê revela: a história nacional sempre contada pelos paulistas, enaltecendo seu papel na história nacional e esquecendo-se das vicissitudes de outras regiões.  
            Dantas faz algumas considerações que merecem reflexão. O mesmo se mostra triste com a tendência ao fim das monografias, pois considera suas pesquisas de suma importância para o sucesso de suas obras e vê que atualmente isso está se perdendo.
            Por fim, Ibarê Dantas fala sobre algumas curiosidades em suas obras. Por exemplo, em “A Tutela Militar em Sergipe (1964 – 1984)” o autor conta que entrevistou uma quantidade expressiva de 40 pessoas e que essa obra trouxe repercussão e constrangimentos, pois muitas pessoas se incomodaram com suas críticas.

3.      CONCLUSÃO

Atualmente, o professor/mestre Ibarê Dantas faz parte de um cenário de intelectuais e estudiosos da história e Sergipe como sua própria esposa Beatriz Góis Dantas, professora Verônica, Terezinha Oliva, dentre outros que com contribuições nos deixam orgulhosos e bem mais corajosos em engendrar no mundo da pesquisa histórica, pois, embora não estejam na universidade estão sempre dispostas a ajudar nos transmitindo um pouco de suas experiências. Entretanto, O professor Ibarê aponta que suas obras não são completas, há muita coisa ainda a ser aprofundada, assim como obras mais gerais a serem escritas, se dependermos de um “pontapé inicial”, com certeza, teremos o exemplo liberdade de expressão, compromisso com o método da pesquisa e erudição do cientista político sergipano e historiador José Ibarê Costa Dantas.  




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